Tive
um colega de escola que gostava muito de adular os professores, na
altura ainda não conhecia esta palavra e gostava mais de lhe chamar
de engraxador.
Podia
também ser apelidado de polidor, limpador de vidros, lambe botas ou
menino de coro, tanta coisa má consegue passar pela mente pura (e
perversa) de um jovem de 10 ou 11 anos
A
verdade é que o engraxador de alguma forma sempre conseguia tirar
melhores notas que eu e que o resto da turma, talvez estivessemos
errados, talvez estivesse errado, talvez ele fosse realmente
trabalhador e dedicado e por isso os seus resultados nos deixavam
ficar para trás em performance académica, não sei do que é feito
desse meu colega mas agora que penso nele e nas memórias que tenho
dele fico com a certeza que não deve ter acabado em engraxador de
sapatos, daqueles cuja profissão está em vias de extinção como
alguns animais raros da savana.
Quem
sabe se a real monarquia anda a caçar engraxadores de sapatos às
escondidas do povo como quem caça elefantes em África em pelo
século XXI. Quem sabe.
Estas
divagações levam-me para outras paragens.
Certo
dia um senhor rico, muito rico, mesmo muito rico, riquíssimo, diria
mesmo, o oposto de muito pobre! Foi engraxar os sapatos ao moço do
largo, cumprimentou, sentou-se no banco e ficou atento ao jornal,
alheio ao que decorria a seus pés, entreteve-se a ler as gordas do
jornal enquanto o jovem ia esfregando, puxando o lustro, arregaçando
as calças, protegendo as meias, dando olhares muito técnicos aos
sapatos enquanto definia a melhor graxa e pano para um melhor
resultado.
Sempre
com cuidado, sempre com perícia, os sapatos que aparentemente não
precisavam de qualquer tratamento urgente ganhavam uma nova alma.
Reconheço
agora, não podemos todos ser engraxadores, é uma arte reservada a
poucos que de forma misteriosa nos olham de baixo para cima!
Serviço
terminado.
O
Sr. Expõe a sua divida e solicita a sua conta.
-
Quanto lhe devo meu caro?
-
São 2,50€, por favor
-
Aqui tem, tenha uma boa tarde.
-
Sr. Não me vai dar uma gorjeta?
-
Como assim, pediu-me 2.50€ e foi o que lhe paguei, não está bem
assim?
-
Sim mas o seu filho quando vem ter comigo para lhe engraxar os
sapatos, dá-me sempre mais 2.50€ de gorjeta!
-
Pois, mas o meu filho tem um pai rico! Eu não tenho um pai rico! Eu
tive um pai pobre.
E
pronto!
hummm...já ouvi esta história em algum lado.
ResponderEliminarMas como falamos há dias....é o tal pai que pertence à geração que ainda tem alguma coisa.
Andas a ler os meus pensamentos e depois dá nisto!!
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