Quando eu era pequeno sabia chorar.
E era muito feliz!
Quando me tornei um rapazinho, disseram-me, não chores, quem chora são as meninas, quem chora são os bébes.
E assim se foi uma capacidade de deitar cá para fora as coisas que me aborrecem. Confesso que não me parece muito acertado chorar por tudo e por nada, mas agora, ao pensar neste assunto vejo que chorar pode bem ser o caminho para uma vida mais feliz.
A minha mãe de vez em quando chora quando está mais aborrecida com algum assunto, ou chora quando está triste, a Sónia por vezes chora quando a desiludo ou magoo.
Ontem perguntei-lhe, o que se sente depois de chorar?
Isto porque tanto quanto me lembro, quando era miudo e os meus pais não iam comigo e com o meu irmão ao parque de escorregas que ficava ali atrás da Camara Municipal de Castelo Branco, eu ficava com um nó na garganta de neura, de tristeza, de agonia, mas não chorava, aquilo era sufocante, queria chorar mas não podia, porque os meninos não choram, não choram porque não os levam aos escorregas..
A Sónia respondeu-me: depois de chorar sentimos alivio.
Recuando mais no tempo, não me lembro do que sentia depois de chorar, porque devia ser ainda muito novito quando me deixei dessas coisas, quando aprendi a chorar para dentro, como a maior parte dos homens faz.
Os meus sobrinhos ainda sabem chorar para fora, com lágrimas e tudo, e a verdade é que aquilo lhes passa e em pouco tempo estão contentes e a sorrir de novo,
Nos ultimos 10 anos acho (tenho a certeza) que chorei 3 vezes, os motivos pareceram-me suficientes duas das vezes, na terceira e ultima, não consigo associar um motivo claro, talvez o meu saco de lágrimas estivesse cheio de ir acumulando ao longo dos anos.
Esta situação fez-me pensar que aguentar, guardar, não exteriorizar é perigosa. Mostramos por um lado que somos uns valentes que não choram em circunstancia alguma, mas qual o real custo disso?
Serão os homens que choram mais felizes que os que não choram?
Talvez.
Mas só quando não estão a chorar...