quarta-feira, 25 de abril de 2012

O engraxador


Tive um colega de escola que gostava muito de adular os professores, na altura ainda não conhecia esta palavra e gostava mais de lhe chamar de engraxador.
Podia também ser apelidado de polidor, limpador de vidros, lambe botas ou menino de coro, tanta coisa má consegue passar pela mente pura (e perversa) de um jovem de 10 ou 11 anos
A verdade é que o engraxador de alguma forma sempre conseguia tirar melhores notas que eu e que o resto da turma, talvez estivessemos errados, talvez estivesse errado, talvez ele fosse realmente trabalhador e dedicado e por isso os seus resultados nos deixavam ficar para trás em performance académica, não sei do que é feito desse meu colega mas agora que penso nele e nas memórias que tenho dele fico com a certeza que não deve ter acabado em engraxador de sapatos, daqueles cuja profissão está em vias de extinção como alguns animais raros da savana.
Quem sabe se a real monarquia anda a caçar engraxadores de sapatos às escondidas do povo como quem caça elefantes em África em pelo século XXI. Quem sabe.

Estas divagações levam-me para outras paragens.

Certo dia um senhor rico, muito rico, mesmo muito rico, riquíssimo, diria mesmo, o oposto de muito pobre! Foi engraxar os sapatos ao moço do largo, cumprimentou, sentou-se no banco e ficou atento ao jornal, alheio ao que decorria a seus pés, entreteve-se a ler as gordas do jornal enquanto o jovem ia esfregando, puxando o lustro, arregaçando as calças, protegendo as meias, dando olhares muito técnicos aos sapatos enquanto definia a melhor graxa e pano para um melhor resultado.
Sempre com cuidado, sempre com perícia, os sapatos que aparentemente não precisavam de qualquer tratamento urgente ganhavam uma nova alma.
Reconheço agora, não podemos todos ser engraxadores, é uma arte reservada a poucos que de forma misteriosa nos olham de baixo para cima!
Serviço terminado.


O Sr. Expõe a sua divida e solicita a sua conta.
- Quanto lhe devo meu caro?
- São 2,50€, por favor
- Aqui tem, tenha uma boa tarde.
- Sr. Não me vai dar uma gorjeta?
- Como assim, pediu-me 2.50€ e foi o que lhe paguei, não está bem assim?
- Sim mas o seu filho quando vem ter comigo para lhe engraxar os sapatos, dá-me sempre mais 2.50€ de gorjeta!
- Pois, mas o meu filho tem um pai rico! Eu não tenho um pai rico! Eu tive um pai pobre.

E pronto!

2 comentários:

  1. hummm...já ouvi esta história em algum lado.

    Mas como falamos há dias....é o tal pai que pertence à geração que ainda tem alguma coisa.

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