quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Ti José Antunes do Sesminho.

Quando eu era pequenino, tinha para ai uns 4 ou 5 anos, morava numa aldeia chamada Sesminho.
O Sesminho, para quem não sabe,  fica entre o Sesmo e a Mó, que por sua vez fica ali perto do Alvito.
Agora que o meu amigo leitor já sabe onde eu andei na minha infância já pode saber mais coisas.
No Sesminho haviam algumas pessoas, poucas pessoas, e todas deviam de ser familiares porque tinham todas nomes parecidos:
O Ti João Amoroso;
A Ti Madalena:
O Ti João Augusto;
O Ti João dos Lameiros;
A  Ti Patrocinia;
A Ti Isilda;
Os meus avós que agora estão em Castelo Branco numa casa arrendada, e ainda não aprendi a lidar com isso, os meus avós sempre foram da aldeia, e isso fazia todo o sentido, sei que agora estão mais perto da civilização mas eu gostava de sentir que tinha uma terrinha.Uma terrinha onde aprendi a andar, onde destruí alguns presentes de Natal, onde perdi um carrinho lá no muro de xisto à beira da estrada, onde os meus pais foram falados porque compraram uma televisão a preto e branco que funcionava a bateria quando as televisões ainda não faziam sentido.
E havia também o Ti José Antunes.
O Ti José Antunes era um homem solitário, com muitas estórias para contar, que sabia sempre tudo o que acontecia e ia acontecer porque lia O Seringador, que tinha muita caixinha de fosforo com imagens bonitas, a sua casa tinha um pavimento, isto é não tinha pavimento, era um barro polido, brilhante que se podia varrer.
Não sei se o Ti José Antunes era casado ou solteiro, ou mesmo viúvo, ou se tinha família.
Ele fazia parte do Sesminho, iamos com ele pelas levadas acima, com as sandálias de borracha azul translucida a escorregar a chapinhar na água, levadas acima até às represas.
Lá em cima perto das represas haviam as melhores tangerinas que provei, daquelas que a casca apesar de ainda ter nuances de verde têm todo o sabor que o Ti Belmiro de Azevedo e o Ti Jerónimo Martins nunca nos conseguirão proporcionar nos seus bonitos escaparates de fruta sensaborona.
O Ti José Antunes já não está entre nós, até a casa dele já foi adquirida por alguém que a começou a recuperar e que não acabou por alguma razão.
Todos os outros Tis já se foram embora ou para casa dos filhos, cá para Lisboa, neste caso Lisboa pode ser Cacém, Laranjeiro ou qualquer outra Lisboa, outros Tis já partiram para sempre... como o Ti José Antunes.
Essa coisa das pessoas envelhecerem e irem embora é muito complicada, não lido bem com isso
Custa-me ver as aldeias vazias e as cidades cheias de pessoas chateadas porque as aldeias estão vazias e as cidades a abarrotar...
Este fim de semana vou ver os meus avós, já tenho saudades dos meus avós.
A casa do Ti José Antunes é a que sem telhado está à esquerda do poste de electricidade no canto inferior direito da imagem. 

4 comentários:

  1. Pois é, eu também tenho saudades desses tempos.
    Vivia numa terrinha perto de Vila Velha, os Perais. Lembro-me de usar essas sandálias azuis e também os ténis da Sanjo e da Ritex que se compravam na Vila no Sr. Fernandes que ainda existe na curva do Menthol.
    Voltando aos "Perais", aí sim eram belos tempos em que conhecia todas as tapadas, campos e hortas..... laranjas, morangos, cenouras, pepinos, melancias.....conforme a época do ano era o que íamos à procura, agora vamos à loja onde vem tudo embalado e amadurecido à pressa, compramos sejam laranjas ou morangos em qualquer altura do ano. Os putos de agora também não sabem o que é ir a correr atrás das carroças dos "Tis" todos e apanhar boleia sem eles saberem, ir aos ninhos ou mesmo jogar às escondidas.... sem falar em ir tomar banho para os tanques das hortas dos "Tis" ou mesmo ir jogar boxe com os bonecos de feno. Já não me lembro como é chegar a casa com as meias cheias de sarafanas.....bom vou mas é continuar a trabalhar que se me distraio começo a contar avarias que nunca mais acabam.

    Abraço Paulo Charrinho

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  2. Ténis da Sanjo e da Ritex? Isso é que era bom! No meu tempo nem sabíamos o que era isso de ténis...Corríamos atrás dos automóveis que apareciam de vez em quando, mas com alpercatas de barro! Sabem o que isso era? De facto, que culpa têm os meus patrícios da Beira Baixa de eu e a minha geração ter nascido "no antigamente".
    Abraços

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  3. Também eu tenho saudades desses tempos e desses lugares. Também eu conheço muito bem a Ti Isilda, pois sou sobrinha dela. E também conheci o Ti José Antunes e todos os outros. Fiquei muito contente por ter descoberto este texto.

    M. João Ribeiro

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